10 de maio de 2011

Uma Jornada na Escuridão - Conto de Aventura

"De fato este conto é uma jornada para o leitor", foi o que disse um leitor e crítico amigo meu. Não sei se realmente ele adorou o conto ou reclamou da leitura longa. Nunca se sabe o que um crítico quer dizer realmente. Eu me inspirei nas novelas de cavalaria e em J. R. R. Tolkien, (autor da trilogia O Senhor dos Anéis). Se você não gosta de Tolkien, então é melhor nem começar a ler. Se nunca leu, pode ser um boa oportunidade de conhecer um pouco de mim e desse autor que inspira milhares de escritores de aventura e fantasia (não que eu chegue aos pés dele). 

     Dobrado em um pequeno baú, um pergaminho de couro jazia entre restos de lama seca. Trazia ideogramas que prenunciavam o caminho para um mistério.
    ― Son rôunãs, mo vôlhu omigo, rôunãs ― ruidou o mago enquanto mastigava um bocado de bolo, repuxando a barba alva e balançando os longos cabelos. Mas no cenho, a atenção enrugava a tez morena, cerrando os olhos cor de azeite. ― Acredito que seja uma forma rúnica muito antiga. Onde encontrou isso? ― perguntou, depois de ter engolido tudo.
    ― Decerto nada distante da antiga cabana, na floresta ― respondeu um homenzinho de cabelos assanhados, com uma expressão de ressaca e a voz esgoelada. ― Algo espetou minhas nádegas quando estive debaixo do salgueiro rugoso depois de bons goles de vinho. Era a aresta de um baú escondida entre raízes fétidas. Não esperei que chegasse o tempo de abri-lo, então, arrombei-o. Contudo, poderia ao menos ter encontrado algumas moedas de ouro, em vez de lama e um pergaminho velho.
    ― Observe o mapa. ― O mago apontou para o pergaminho. ― Talvez seja o caminho até um tesouro!
    Imediatamente a face do homenzinho se mostrou interessada, os olhos brilharam. O mago o encarou e perguntou, surpreso:
    ― Reueliuel, por obséquio! Um nobre como tu, precisas de mais ouro?
    ― Nunca é demais para um rei. Nunca, meu caro!
    O mago virou o pergaminho para baixo. Queria desvendá-lo sem pressa. Sem dar atenção à impaciência do rei, tomou lentamente seu chá de frutas vermelhas.
    ― Pois bem, Ranulfo. Esse pergaminho será teu, assim que traduzi-lo. Pensei que tu conhecias todos os tipos de runas. Um mago deve ter seus segredos, é claro. Ou não possuis tanta sabedoria quanto indica teu rosto? ― ironizou o rei Reueliuel, retirando-se com uma risada jocosa.

    Ao cair da madrugada, o mago ainda mantinha os olhos abertos, apostando na revelação do pergaminho.
    Não tinha interesses gananciosos para com o tesouro, se é que havia algum. Para ele, o faro da descoberta era o princípio de toda a sabedoria.
    No entanto, não conseguira desvendar nada ainda, mesmo depois de horas. Aquele tipo de linguagem rúnica era desconhecida para ele. Já frustrado e muito cansado, o mago esbravejou, atirando o pergaminho no chão:
    ― Que coisa estúpida! Que burrice a minha!
    Segundos depois, o mago franziu a testa.  O nariz comprido e afilado se retorceu. Ele inverteu o pergaminho contra a luz da vela, com o verso virado para cima.
    As runas começaram a surgir, pálidas, no verso do pergaminho onde supostamente não havia nada escrito.
    ― Uma mensagem secreta que surge à luz da cálida chama ― comentou o mago, aos sussurros, olhando ao redor, certificando-se de que ninguém estava por perto.
    Levantou-se e fechou a porta de seu salão de pedra. Voltou a olhar o pergaminho. Intrigou-se ao traduzir as primeiras runas:

    “Sei que o Mundo Sombrio é um lugar tortuoso e tão cheio de pavor que não fico surpreso ao ouvir suas lendas mergulhadas em sangue. A morte habita neste lugar.

    Sou a única testemunha viva da existência das negras Fendas de Etrom. Sou aquele que viu as densas brumas ocultarem criaturas cinzentas de hábitos assassinos. E sou o portador deste segredo a mais de meio século.
     Alguém, no entanto, me observa, seguindo-me todos os dias pela floresta, proveniente do castelo de Edgard, o rei do norte. Temo que tal pessoa domine grande bruxaria. Ela sabe de minha jornada ao Mundo Sombrio, mas desconhece que, srpente mpos novos a ontrada num encontrada num velho nesses novos tempos, a grande Serpente dorme no âmago do abismo, o que eu suponho ser um perigo a menos.
    Mesmo assim, tenho pesadelos com os servos do mal. Lobos-homens me perseguem no bosque e arrancam-me nacos de carne. Há sempre tanto sangue!
    Todavia, a criatura que me causa horror e agonias noturnas é a outra manifestação da Serpente. A não ser que se tire o cálice, ela nunca será libertada. Nunca.
    Durante anos escondi esse segredo e sei que isso, um dia, custar-me-á a vida. Li, nas muralhas do Mundo Sombrio, descrições de maldades inomináveis, feitiçarias terríveis, invocações de espíritos maus. Contudo, a Rocha Nova me apaziguou a alma. Parece não ter a mesma idade dos séculos deste solo tenebroso.
    A quem desvendar tal Mundo, saiba que a Serpente Antiga dorme. Menos suas criaturas tão despertas, sempre ocultas, que se esgueiram entre rochas antigas e se escondem da luz.
    O Fogo Alvo é o único que pode afastá-las. Use-o! Será muito necessário. E lembre-se...”
    As runas, nesse ponto, estavam apagadas. O mago supôs que o estrago havia sido causado pela umidade de dentro do baú. Mesmo assim, algumas coisas no pergaminho não faziam sentido. Algumas palavras misteriosas, enigmáticas, deixaram o mago confuso e pensativo.
    No rodapé do pergaminho, o mago observou, mais uma vez, o desenho do mapa de uma montanha. Era chamada de Shilaibhron, a montanha vermelha. Abaixo dela, havia uma grande nódoa preta que podia ser interpretada apenas como um borrão de encaustum. Ou, talvez, fosse o mundo de densas trevas esboçado pelo misterioso portador.
                                                                              *
    Quase vinte anos se passaram, e a montanha Shilaibhron, ao norte das Astúrias, mantinha a seus pés um pântano fechado.
   Três rapazes sobre seus cavalos entraram na trilha que seguia até o pântano. Uma neblina baixou sobre eles. Os cavalos relincharam.
    ― O nevoeiro desce do alto de Shilaibhron ― comentou Seuhtam, olhando para o cume da montanha. ― Acendamos o fogo. Está começando a escurecer.
    ― Espere, ainda é cedo ― contrapôs Lemikel.
    O outro não lhe deu ouvidos. Pôs fogo na lã enegrecida da tocha.
    ― Por que há tantas sombras neste bosque? ― perguntou Seuhtam, temeroso.     
    ― Estamos próximos do Mundo Sombrio. ― A voz de Alanur era pesada e o olhar profundo.
    ― Vejam! Aquela pedra grande cobre uma fenda na montanha ―  disse Lemikel, entusiasmado.
    Os três desceram dos cavalos e acariciaram os focinhos dos animais. Alanur seguiu em frente, prostrou-se perto da rocha lisa e a tocou.
    ― Tão gelada quanto o inverno ― proferiu o rapaz, arrancando musgos e heras da pedra.
    Do farnel de couro, tirou uma tocha betumada e dois pedregulhos. Alanur cerrou os olhos e esfregou as mãos, pousando-as sobre os pedregulhos. Eles se uniram, como por magnetismo, então soltaram faíscas alvas. O rapaz aproximou a lã betumada da tocha, ao encontro das centelhas. Um Fogo tão branco quanto a neve surgiu na tocha, embora não consumisse a lã.
    ― O que é? Fogo fátuo? Como fez isso? ― quis saber Seuhtam.
    Alanur não respondeu. Guardou os pedregulhos e concentrou-se em aproximar o Fogo da grande pedra.
    A Chama branca, na mão esquerda de Alanur, revelou dezenas de símbolos que zuniram e brilharam na escuridão.
    Ajoelhado, Alanur passou os dedos  pelos cabelos e apoiou o queixo com a outra mão, muito pensativo.
    ― Há algo errado? Está tudo bem? ― perguntou Seuhtam, outra vez.
    ― Deixe-o. Ele precisa pensar para poder traduzir ― ordenou Lemikel.
    Alguns minutos depois, mergulhado entre as sombras e a claridade do Fogo, Alanur declarou:
    ― É um poema.
Os dois outros se aproximaram.
    ― Um poema? ― Seuhtam repetiu, descrente.
    ― Um poema de Odin ― completou Alanur, convicto. ― Preciso recitá-lo.
    ― Apenas isso? ― disse Lemikel.
    ― Não tenho certeza... ― titubeou Alanur.
    ― O que quer dizer? Responda-nos logo! ― exigiu Seuhtam.

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